(Foto: Silvio Cesar) |
Ele não tem papas na língua. Fala o que pensa, sem medo da repercussão. Elogia, quando em sua visão, é preciso. Mas critica (e muito) quando está insatisfeito com algum tipo de situação. Amauri Braga, atual presidente e um dos fundadores do principal time de futsal de Guarulhos, a Wimpro, recebeu a equipe da Folha Metropolitana em sua casa.
A campanhia de sua casa tocou por volta das 10h da última quinta-feira, 21. Ele mesmo quem abriu o portão para a reportagem. De bermuda, sandálias e sem camisa, nem parecia aquele homem apreensivo, preocupado, que fica andando de um lado e para o outro em dias de treino e jogos.
Mas quando começa a entrevista, o semblante de preocupação volta. “Estou tão desgastado que eu tomo remédio para a minha saúde e não faz mais efeito. Já me encaminharam para um psicólogo”, disse em tom de seriedade. Depois sorriu.
Ele falou de tudo: do time de ouro da década de 1990 que vencia a maioria dos campeonatos que participava até a decadência dos dias de hoje, como dívidas com a Federação Paulista de Futebol, resultados ruins, atraso de salários e até eliminação de campeonato por erro administrativo. Também não perdoou a Prefeitura de Guarulhos e a secretaria de Esportes.
Quando se referia ao secretário da pasta, Wagner Freitas, o chamava de “o homem do chapéu”. “Eu prefiro nem falar o nome dele. Ele não merece”, afirmou. Quando se referia a história, falava com amor, mas há um ano de a equipe completar o seu 30ª aniversário, ele disse: “2013 foi o pior ano da vida da Wimpro”. Confira a entrevista:
FPM - Como surgiu a Wimpro?
AB - Eu tinha uma indústria de chocolate perto do Colégio Progresso, no Centro de Guarulhos. Fiz amizade com o Armando, xerife do colégio. Como o time do colégio era muito bom, levantamos os custos e com o Aildo Jorge de Souza, proprietário da Wintom Equipamentos, criamos o time. Ficou Wimpro por causa da empresa e do Progresso. A junção das duas primeiras palavras de cada nome. O time foi fundado em 9 de agosto de 1984, no ano que vem faz 30 anos. Em 1990 nos filiamos direto a Federação Paulista de Futebol e estamos até hoje.
FPM - A Wimpro revelou bons jogadores, que hoje brilham no cenário nacional do futsal. O senhor pode citar alguns nomes?
AB - Só para você ter uma ideia. Os maiores nomes que nós tivemos foram os irmãos Lenísio e Vinícius. Depois veio Rosinha, Paulinho Japonês, Simi, Índio. Outro dia, eu fiz um levantamento e constatei que 28 atletas que passaram pela Wimpro disputaram a Liga Nacional este ano. Inclusive, o Biel do Concórdia, que fez gol na final. No jogo da semifinal entre Corinthians e Orlândia, noves jogadores que estavam em quadra, passaram pela Wimpro. Msmo com uma situação ruim revelamos até hoje. Por exemplo, o Rafael é um cara que vem se destacando e já é sondado por grandes times.
FPM - Na década de 1990, a Wimpro era um dos melhores times do Estado de São Paulo. Qual é o motivo dessa queda brusca nos últimos anos?
AB - É simples. Em 2001 disputamos a Liga Nacional. Até essa época, andamos bem. De lá para cá, começamos a cair. É falta de investimento. Sempre fomos escravos da política. Ficamos mal acostumados com a secretaria de Esportes. A gente tinha muita facilidade com financiamento da secretaria, fazíamos bons times e nós não pensamos no futuro. Esse foi o nosso maior problema. Querer depender só da Prefeitura, do município. A realidade hoje não é essa. Não nos preparamos para o futuro.
FPM – Essas duas últimas temporadas foi muito pior do que as outras?
AB – Com certeza. No ano passado a gente tinha de verba R$ 216.500 por ano. O Vadinho [ex-secretário de esportes] foi embora e ficou devendo quatro meses de salário para a gente. São R$ 64 mil que ainda não pagaram. Esse ano o secretário chamou a gente e ele falou que não ajudaria não. Só com uma parte. Ele nos arrumou R$ 60 mil para o ano de 2013. Pagamos arbitragem e custo de federação com R$ 20 mil. Sobrou R$ 40 mil para a gente fazer a folha de pagamento. Para disputar um campeonato de nível, como a gente disputa, não dá nem para um mês. Até hoje não vimos um real da Prefeitura. Estamos no fim de novembro e não deram nada ainda.
FPM - Alguns jogadores do ano passado e desse ano ainda não receberam nada. Qual é o motivo? Como o senhor vai pagá-los?
AB - Estamos esperando a boa vontade da secretaria de esportes. Não temos quem a recorrer. Nos dois últimos anos dependemos da Prefeitura para pagar os atletas. O dinheiro deles está tudo na Prefeitura. Estou com dois casos de justiça do trabalho. Eles me prometeram que até o final do ano, acertaria tudo.
FPM – Mas a Prefeitura não pagou nada ainda?
AB – Nada. Pergunta para os atletas desse ano quanto eles receberam. Nada. Temos pais de família, que precisam dos salários para sustentar as famílias. Única coisa que deram foi as carteirinhas de ônibus. Estamos devendo até hoje viagem do primeiro semestre. Pelo menos transporte, até o ano passado, eles nos deram, mas esse ano não deram nada. A nossa realidade hoje é essa. Trouxemos gente para nos ajudar que nos deu prejuízo de mais de R$ 3 mil reais. Sem contar a Liga Paulista Futsal, que corremos o risco de perder a franquia porque estamos devendo cerca de R$ 10 mil.
FPM – A Wimpro precisa pagara a Liga Paulista Futsal até quando?
Até o dia 29 de novembro, senão vamos perder a franquia e acabou o futsal em Guarulhos. Devemos R$ 7 mil na Liga e tem mais um débitos, como multa, o placar quebrou, jogamos sem placar, é R$ 1 mil de multa cada jogo. Fizeram olimpíada lá [no Thomeozão] usaram demais e queimou.
FPM – Como o senhor vê os ginásios esportivos da cidade hoje?
AB - Vamos para 16 anos na mão do PT. Temos uma praça de esportes só com condição, que é o Thomeozão, mas fica seis meses a disposição do Bolsa Família. O que é o Bolsa Família? É um caça-voto. A pessoa vai com três filhos e se tiver estudando, tem aquele “salarinho” para os três filhos. Ai a pessoa vota em quem? No PT porque fala que ajudou. Apenas 20% do Thoemozão é para esporte. Os outros 80% é usado em shows, bolsa família, dança, casamento coletivo, festa de japonês e fica constantemente ocupado. E com isso ficamos sem espaço para nada. O secretário quando assumiu e nos recebeu, disse que esse ano o dinheiro da pasta seria tudo para reforma de equipamentos esportivos. Manda ele entrar no Thomeozão em dias de chuva. Não consertou uma telha. Não fez nada. E esse dinheiro do investimento em equipamentos?
FPM – A Wimpro já disputou finais de campeonato no Fioravante. Sabe o que vai acontecer com aquele espaço?
AB - Está jogado as traças. Não sei o que vai acontecer com aquilo. Se eu tenho recurso para investir ali, eu ia pedir para a Wimpro. Ia fazer um ginásio decente. Um dos meus sonhos seria esse. Um dia ter um dinheiro e ter a concessão daquela área e fazer uma arena na entrada de Guarulhos. Ali é um cartão de visita. Todo mundo entra em Guarulhos por ali. Os outros ginásios, Ponte Grande e João do Pulo sem chances. Usamos para treinar, mas não é ideal.
FPM - Como o senhor avalia esse ano da Wimpro?
AB - O pior ano da nossa vida. Acho que ele [Wagner Freitas] entrou na secretaria para cortar tudo, acabar com o esporte. O esporte infelizmente está morto na cidade. O Paschoal Thomeo, quando era nosso prefeito, nos ajudava muito. Tinha o Wilson David, que era o secretário de esportes. Eles investiam muito. Guarulhos era a Capital do Esporte. Trouxemos a nata para cá. Se você quisesse um jogador bom, era só chamar que eles vinham. Os caras brigavam para vim. Completamente diferente de hoje, que os caras fogem da gente.
FPM - Neste ano, orçamento da Secretaria de Esportes caiu em R$ 5 milhões. Se o senhor disse que 2013 foi ruim, já pensou como será em 2014?
AB - Se ficar na mão das mesmas pessoas vai ser pior. Se colocar um secretário com outra visão será diferente. A lei de incentivo ao esporte será a salvação. Essa é uma das esperanças. O problema do orçamento é a folha de pagamento. A maioria do dinheiro é para isso. Tem cara que recebe da Prefeitura a muitos anos e não sabe nem onde Guarulhos fica.
FPM – A Wimpro passou um vexame no último campeonato, sendo eliminada por um erro administrativo. O que realmente aconteceu?
AB – Escalamos um jogador que estava com quatro cartões amarelos. Foi erro meu. Controlo os cartões do time há 20 anos, mas passou batido. Só eu que tenho que ver tudo. Correr atrás de dinheiro de arbitragem, correr atrás de ambulância, policiamento, tudo eu que faço isso. É a primeira vez. Ficou chato porque a gente tem um nome a zelar e ser desclassificado por causa disso é ruim.
FPM - Traçou planos para o ano que vem?
AB - Dependo desses dias para saldar o meu débito na Federação, para não perder a franquia. Ai o prejuízo vai ser muito maior. Tudo o que foi feito vai pelo ralo abaixo. Vou pensar na Wimpro só depois de dezembro, se eu conseguir pagar a franquia. Eu só quero ter forças para continuar o ano que vem que é o ano que a gente faz 30 anos de vida.
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